Setembro amarelo pede atenção, aproximação afetiva e cuidado com o uso de drogas.
A pandemia tirou o ser humano da zona de conforto e exigiu novos hábitos.
O isolamento foi um dos pontos que mexeu intensamente com as pessoas neste período e causou muitas controvérsias – seja pela questão emocional, nas práticas do dia a dia ou na área econômica.
O ser humano é um ser social e, da noite para o dia, precisou se reestruturar e readequar hábitos que são inerentes como a socialização.
Com a diminuição dos contatos sociais, os medos e as inseguranças decorrentes do atual cenário podem ser bastante impactantes, sobretudo para as pessoas que não tiveram as condições, habilidades e a maturidade para trabalhar as emoções causadas pelas mudanças neste período e, por isso, é necessário acompanhar com bastante atenção os reflexos desse isolamento na população, explica o professor Guilherme Alcântara Ramos, mestre em Psicologia, coordenador de equipes de projetos psicopedagógicos e do Núcleo de Atendimento Psicopedagógico do Centro Universitário UniCuritiba.
Segundo ele, um dos pontos a se atentar é que a superação do momento de pandemia pede e requer o chamado “isolamento social geográfico”, mas não o “isolamento afetivo”.
“Existe uma distância bem grande entre um distanciamento e outro. Nossa orientação é para que as pessoas encurtem distâncias, aproveitando o que a tecnologia tem de melhor e estimulem os afetos”, ressalta.
De acordo com o coordenador, o fato das visitas e festas não estarem liberadas para evitar aglomerações não invalida a criatividade. Pelo contrário, ela precisa ser estimulada e colocada em prática, em prol do bem comum.
Assim, vale organizar festa de aniversário online, happy hour, confraternização, encontros virtuais que sejam de descontração e não remetam apenas às questões de trabalho.
“Fisicamente as pessoas não estão no mesmo espaço, mas quando se conectam, elas se reabastecem e reforçam o vínculo emocional – o que é extremamente benéfico e necessário”, explica.
Pontos de atenção
Uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2017 destaca que, no Brasil, entre os jovens de 15 a 19 anos, o suicídio é um dos maiores motivos de morte, ficando atrás apenas da violência interpessoal e dos acidentes de trânsito.
Outro estudo recente da OMS também demonstra que a ansiedade, por exemplo, atinge mais de 260 milhões de pessoas no mundo.
O Brasil, em 2019, era o país com o maior número de pessoas ansiosas: 9,3% da população.
“Embora sejam do ano passado, os números da pesquisa deixam claro que 86% dos brasileiros sofrem com algum transtorno mental como ansiedade e depressão”, analisa o professor.
Ramos enfatiza que, neste momento, o mês de setembro – já tradicional pelas campanhas de prevenção à saúde mental e combate ao chamado autoextermínio – vem justamente ressaltar a importância dos afetos.
“Também é um chamado para que você exercite a sensibilidade e olhe com atenção para quem está do outro lado da tela. Será que meu colega está bem, como ele tem administrado as emoções neste período?”, ilustra.
Ele esclarece que os problemas mentais não significam uma fraqueza nata, mas são fruto de uma conjuntura.
“Insônia, tristeza constante, ideias de morte, isolamento voluntário e alternâncias de humor são coisas que precisam de diálogo a respeito e devem ser levadas a sério”.
“Os cuidados com a saúde mental valem para todos – sejam adultos, crianças ou idosos.
Não tenha medo ou vergonha de procurar ajuda – para si ou para alguém que você conhece”, reforça.
Uso de álcool e outras drogas
Além do isolamento afetivo, as pessoas passam a consumir mais álcool e drogas diante de uma pandemia e de situações tão assustadoras ou limitadoras.
Elas buscam nas substâncias o que chamamos de coping, uma palavra em inglês que tem associação com a maneira de enfrentarmos os problemas e também com a nossa resiliência.
É a forma como reagimos às situações de estresse, ameaça, ansiedade e desconforto emocional.
Algumas pessoas respondem a esses sentimentos negativos através do uso de drogas, e é o que a gente tem percebido nessa pandemia; as pessoas acabam usando drogas mais sedativas e anestésicas (álcool e maconha, por exemplo) e usam menos drogas estimulantes, principalmente porque não estão ocorrendo as famosas raves e festas – locais que têm maior índice do uso de êxtase ou ácido.
Então é uma forma de sedação, de anestesia e de reação a esses sintomas negativos ligados a sofrimento, ansiedade, estresse, imprevisibilidade – não sabemos quando vai acabar, não sabemos se vamos nos contaminar ou se as pessoas que gostamos vão pegar o coronavírus também.
Um estudo feito pelo Serviço Nacional de Orientações e Informações sobre a Prevenção do Uso de Drogas constatou que o consumo de álcool, cocaína e crack está diretamente relacionado às tentativas de suicídio.
E este é mais um motivo para estarmos alertas e buscarmos ajuda ao menor sinal de dificuldade.
Fonte: Rádio Cultura Foz, Mem e Mem Agência de Notícias
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