Um estudo de 2016 intitulado “Representação social do suicídio para pessoas com problemas relacionados ao uso de drogas”, fez uma compilação de vários outros estudos e mostrou que a maioria dos pacientes em tratamento num Centro de Atenção Psicossocial apresentava histórico de comportamento suicida.
Leia a seguir alguns dos resultados obtidos:
O abuso/dependência de drogas e os problemas relacionados aumentam o risco de tentativa de suicídio entre pessoas que tiveram ideação no ano anterior ao estudo.
Faz-se importante conhecer o perfil de pessoas com comportamento suicida a fim de se pensar estratégias de prevenção.
Fatores de Risco para o Suicídio
Sentimentos e situações que podem contribuir para esse perfil incluem humor depressivo, diagnósticos psiquiátricos, uso de álcool e drogas, insatisfação permanente.
Representações como fraqueza, falta de fé e falta de diálogo familiar foram encontrados em uma pesquisa que buscou conhecer fatores de risco para o suicídio em uma cidade brasileira com alto índice deste fenômeno.
A OMS corrobora os achados ao elencar como fatores de risco para a ocorrência do suicídio, além do próprio transtorno relacionado ao uso de substâncias, relacionamentos conflituosos, desesperança e falta de apoio social.
Principais grupos de risco para o suicídio
Outro estudo que encontra associação com estes resultados revela quatro principais grupos de risco envolvidos no comportamento suicida: transtornos mentais, alcoolismo, impulsividade e abuso infantil.
Desespero, sofrimento e descrédito pessoal expressam o sofrimento psíquico que acompanha a vivência subjetiva e social das pessoas com problemas relacionados ao uso de drogas.
Nesse contexto, o suicídio está associado ao sofrimento e desesperança.
A existência de sofrimento com ausência de solução ou impossibilidade de ver outras saídas pode ser observada nas pessoas que tentam o suicídio como busca de solução ao sofrimento. Neste caso, a tentativa representa uma forma de findar a intensa angústia sofrida.
A pessoa que escolhe morrer, via de regra, está submersa em uma angústia avassaladora.
Relação com o uso de drogas
Observa-se fragilidade da rede de apoio das pessoas com problemas relacionados ao uso de drogas que, muitas vezes, apresentam histórico de abandono ou ausência de apoio familiar, como representado neste estudo.
Em geral, identificam-se, entre as consequências da dependência de drogas, o agravamento de eventuais conflitos e dificuldades existentes no cotidiano familiar.
O problema relacionado ao uso de drogas abrange um conjunto de fatores —individuais, coletivos, sociais e familiares—, sendo que, em nível individual, observa-se prejuízo no comportamento e funções executivas como redução no processamento cognitivo, prejuízo no raciocínio geral e dificuldade de atenção e memória em usuários de cocaína e crack.
O impacto familiar deve-se à ocorrência de violência doméstica, física, psicológica e patrimonial, como observado em um estudo que aponta o uso de álcool e crack pelo companheiro íntimo como fator de risco para a companheira, produzindo relações desestruturadas devido ao medo e interferindo na qualidade de vida.
A fragilidade da rede de apoio das pessoas com problemas relacionados ao uso de drogas também pode atuar como precipitador do comportamento suicida, revelando a importância do resgate desses vínculos no tratamento.
Vivências de rejeição, histórias de abusos e perdas podem agir como eventos adversos e possíveis motivadores para o suicídio.
Assim, a tentativa de suicídio se constitui um modo de lidar com a dor de existir, decorrente de vivências de situações traumáticas.
Entre as representações sociais dos pacientes sobre as drogas encontra-se angústia, tristeza, solidão, lembrança das perdas e danos decorrentes das drogas, violência, morte e suicídio.
O contexto de vulnerabilidade do comportamento suicida para pessoas com problemas relacionados ao uso de drogas, mostrou-se relacionado à história de vida e de dificuldades próprias da intoxicação, abstinência e recaída.
A intoxicação alcoólica aguda pode agir como gatilho para pensamentos suicidas e tentativas entre pessoas em situação de risco e influenciar o potencial de letalidade da tentativa de suicídio.
Outros estudos
Um estudo polonês com pacientes alcoolistas em tratamento e com histórico de tentativa de suicídio mostra que mais de 2/3 dos pacientes relataram tentativas mais graves de suicídio durante o consumo pesado de álcool.
Entre as características relacionadas ao comportamento suicida no período de intoxicação alcoólica encontram-se: sexo masculino, idade jovem, maior gravidade de dependência de álcool e maior ocorrência de tentativas não planejadas.
Por outro lado, um estudo mexicano acerca das tentativas de suicídio entre pacientes de um hospital geral mostrou que as tentativas premeditadas se associavam mais ao consumo anterior de álcool e cannabis quando comparadas àquelas não planejadas.
Geralmente, adultos em tratamento para transtorno de uso de drogas apresentam sintomas de afeto negativo e transtorno depressivo.
Um estudo norte-americano acerca de mudanças na autoeficácia para abstinência durante o tratamento mostra que, na admissão, as pessoas com sintomas depressivos apresentam menor autoeficácia, particularmente em situações de afeto negativo.
A autoeficácia para abstinência aumenta significativamente durante o tratamento, independentemente do status do transtorno depressivo.
A comorbidade de depressão com abuso de drogas aumenta o risco de suicídio.
Um estudo mexicano sobre os fatores associados com a depressão e tentativas de suicídio entre pacientes em tratamento para abuso de drogas mostra que 68,4% apresentavam depressão atual, e 28,1%, tentativa de suicídio no último ano.
Entre os fatores associados com tentativas de suicídio atuais foram: receber um diagnóstico de depressão antes do consumo de drogas e tentativas de suicídio anteriores ao uso de drogas.
A representação social do suicídio como única opção no momento de abstinência pode estar associada à influência exercida pela crença das pessoas em seus comportamentos.
Desta maneira, estas falas validam o comportamento suicida para pessoas com problemas relacionados ao uso de drogas, já que a única opção que tem é suicidar-se.
Recaída pode ser fator de risco para o suicídio
Entre os desafios no tratamento da dependência de drogas encontra-se o fenômeno da recaída.
Estudos mostram, como representações desta experiência, sentimentos negativos como culpa, raiva, remorso, vergonha, mágoa, frustração, solidão, tristeza, angústia e desesperança.
Esses sentimentos podem ser desencadeados pela oposição entre sua identidade anterior, como abstêmio, e seu atual comportamento de lapso ou recaída. Neste sentido, essa representação negativa pode produzir falta de esperança em relação à recuperação, podendo o suicídio ser pensado como única possibilidade.
Essa representação negativa também é encontrada nos serviços de saúde. Os profissionais muitas vezes têm suas ações influenciadas por estigmas que envolvem os usuários de drogas, como ideias de culpabilização ou de que essas pessoas não têm força de vontade, acarretando aos profissionais ausência de interesse em desenvolver ações de cunho preventivo e assistencial a esse público.
Fatores de Proteção ao Suicídio
Para as pessoas com problemas relacionados ao uso de drogas, encontram-se como fatores protetivos do comportamento suicida a fé em Deus ou religião, relação afetiva, ocupação ou distração e tratamento psiquiátrico.
Um estudo internacional realizado com pacientes em tratamento em serviços de saúde mental diagnosticados com abuso de drogas corrobora os achados deste estudo ao apontar como fatores de proteção para o comportamento suicida: ter razões para viver, senso de responsabilidade com a família, apoio de redes sociais e familiares, espiritualidade, atividades de trabalho ou escola, continuidade de tratamento dos transtornos mentais ou físicos, crença de que o suicídio é imoral e medo da morte devido à dor.
Outra investigação também reforça o que foi encontrado nesta pesquisa, ao apontar a satisfação de vida, autoestima, percepção de coesão familiar e apoio social como fatores atenuantes contra a desesperança e ideação suicida.
Fonte: http://www.scielo.org.co/pdf/aven/v35n2/0121-4500-aven-35-02-00148.pdf
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