Dois anos sem Padre Haroldo Rahm – importante personagem da história da Clínica Jequitibá e da história da dependência química no Brasil
A história da dependência química tem acompanhado a história da humanidade e vem passando por diferentes formas de consumo, manuseio e função, chegando até nossos dias com inúmeros
significados, dentre eles: busca de prazer, alívio imediato e muitas vezes fonte de renda ilegal. Assim, entre os inúmeros desafios da contemporaneidade o uso de drogas é um problema que, embora complexo e passível de tratamento, passa uma ideia de que é difícil de ser solucionado.
No Brasil, em 1965 essa história começa a ser recontada de um outro ponto de vista – o ponto de vista de Padre Haroldo Rahm, um missionário jesuíta, nascido na cidade de Tyler – Texas, em 22 de fevereiro de 1919.
Nos Estados Unidos, Haroldo já desenvolvia, desde jovem, trabalhos sociais com jovens que viviam na fronteira com o México.
Em 1978, Padre Haroldo Rahm, motivado pelo alcoolismo do próprio pai, fundou a entidade filantrópica “Associação Promocional Oração e Trabalho” (APOT), que em 2009 foi rebatizada com seu nome pela diretoria, para auxiliar os dependentes químicos.
O Instituto Padre Haroldo já foi reconhecido com prêmios nacionais e internacionais. Da terapia para dependentes químicos, ganhou notoriedade com um total de 15 serviços, todos mirando a mudança de vida, ao longo dos últimos 40 anos.
Todos os dias, cerca de 1,5 mil pessoas são atendidas e 6 mil vidas de familiares, amigos e vizinhos dos acolhidos, são impactadas, direta ou indiretamente.
Crianças se desenvolvem em atividades pedagógicas sobre prevenção contra uma vida na criminalidade. Gestantes e mães em situação de vulnerabilidade ganham abrigo e apoio para um recomeço. Pessoas em situação de rua são acolhidas e alimentadas. De diversas cidades do estado de São Paulo e do Brasil, chegam aqueles que buscam tratamento para vícios em drogas lícitas e ilícitas.
Padre Haroldo ministrou dezenas de cursos, recebeu diversos prêmios e deixou mais de 50 livros escritos. Faleceu em 30 de novembro de 2019, aos 100 anos de idade, deixando para todos nós que, como ele, buscamos abrir portas ou construir pontes para salvar vidas.
A Clínica Jequitibá, em suas atividades diárias, inspira-se muito em tudo o que o Padre Haroldo Rahm passou a vida ensinando com suas atitudes. Nosso compromisso com nossos pacientes é verdadeiro e honesto. Buscamos resgatá-los e trazê-los de volta a uma vida cheia de dignidade e, com o apoio da família, reinseri-los na sociedade.
Utilizamos em nossas terapias legados de Padre Haroldo: 12 passos, ferramentas Freemind e um amor exigente, que trazem esperança e ajudam na recuperação de todos que passam pela clínica Jequitibá.
Padre Haroldo se foi há 2 anos, mas deixou um legado de obras vivas e escritas que o tornaram imortal!
Deixamos aqui para vocês um dos textos escritos por Padre Haroldo, para reflexão.
FÁCIL E DIFÍCIL
“Conta-se que existia um grande professor chamado Buso, que era casado e tinha uma filha. Todos da família eram conhecidos por sua grande sabedoria e santidade. Um dia, um homem aproximou-se do professor e perguntou: ‘A iluminação é fácil ou difícil?’ E Buso respondeu: ‘É tão difícil quando chegar à Lua’. Inconformado, o homem foi falar com a mulher de Buso e lhe fez a mesma pergunta. Ela respondeu: ´É muito fácil. Tão fácil quanto tomar um copo d´água’. O homem ficou intrigado e, para livrar-se das dúvidas, fez a mesma pergunta à filha do professor, que lhe respondeu: ´Ora, se o senhor torna as coisas difíceis, é difícil, mas se facilita tudo…’”
Difícil mesmo é a capacidade de ver, isto é, de ver com simplicidade, com sinceridade, sem nos enganar porque ver significa mudar, ficar sem nada a que se agarrar. E nós estamos acostumados a procurar apoio, a andar com muletas. Quando chegamos a ver com clareza, temos de voar. E voar significa nada temer, andar sem se agarrar a coisa alguma. Precisamos desmontar a tenda em que nos refugiamos e continuar pelo caminho que está adiante de nós, sem procurar apoio.
A primeira coisa que devemos entender é que as pessoas que nos recorrem não procuram a cura, mas o alívio; elas não querem mudar, porque a mudança nos expõe e compromete.
É como aquele que estava mergulhando em uma fossa, com sujeira até a altura do queixo, cuja única preocupação era que ninguém aparecesse para fazer ondas, não se importando em ser ou não tirado dali. O problema, portanto, é que a grande maioria das pessoas compara a felicidade com a conquista dos objetos que desejam, quando, ao contrário, a felicidade reside precisamente na ausência dos desejos, e no fato de pessoa alguma ter poder sobre nós.
Buda fala que desejos causam sofrimentos. Santo Inácio de Loyola fala que desapego dá felicidade.
PARA REFLETIR
O Bispo estava fazendo uma visita pastoral em algumas ilhas da diocese. Encontrou três pescadores e perguntou se eles sabiam rezar. Um deles respondeu:
– Senhor Bispo, somos analfabetos, por isso rezamos apenas dizendo: “Somos três. Vós sois três. Tende misericórdia de todos nós”.
Horrorizado, o Bispo gastou todo o dia para ensinar os três pescadores a rezar o Pai-Nosso. Um ano mais tarde o Bispo voltou às ilhas e, passando, ouviu um grito. Eram eles, os três pescadores, que se aproximaram e disseram:
– Senhor Bispo, esquecemos aquela prece bonita. Dá para o senhor ensinar novamente? Humilhado, o Bispo respondeu:
– Amigos, esqueçam. Voltem em paz e continuem rezando como sabem: Somos três, vós sois três. Tente misericórdia de todos nós”.
(Padre Haroldo Rahm – disponível em: https://padreharoldo.org.br/artigos-do-padre-haroldo/14/facil-e-dificil/118)
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