O Rui (nome fictício) é um rapaz com 25 anos de idade, que se apresenta na consulta com um aspecto lentificado, olhar mortiço, e com um ar assustado. Vem acompanhado pelos pais que tomam a iniciativa do diálogo.
Relatam a sua preocupação com o filho, após um episódio “muito estranho” que ocorreu há 3 meses e a sua presença ali é “para saberem o que se passa com o filho”.
O Rui declara-se vítima de um grupo de bandidos ligados à droga, que o raptaram e lhe implantaram dois aparelhos: um, nos ouvidos, pelo qual comunicam com ele; outro, na garganta (aponta para o osso hioide) por onde ouvem todas as suas conversas.
Envolvido neste mundo delirante, o Rui é comandado por vozes que lhe entram pelo aparelho do ouvido e que o mandam executar os mais diversos atos.
Um deles, o mais bizarro, ocorreu após 3 noites e 3 dias sem ter conseguido dormir, tal era a frequência das comunicações que mantinham com ele.
Atormentado por estas vozes que o ameaçavam, sai alvoraçado para o meio da rua, quando subitamente, lhe ordenam que se dispa para verificarem se “não tinha nenhum retransmissor com ele”, pois está agora convencido que os bandidos, afinal, eram da polícia!
Os pais, em pânico, agarram-no e conduzem-no ao pronto socorro de um Hospital, onde foi medicado e acalmado. Percebem que o Rui andava a consumir drogas e julgam tratar-se de consequências graves desse tipo de hábitos.
Por isso, conduzem-no para uma consulta com um psiquiatra que lhe diagnostica com uma esquizofrenia e é medicado em consonância. Os pais têm muita dificuldade em aceitar este diagnóstico e começam a consultar outros especialistas, tendo acabado por vir à minha consulta.
O Rui foi sempre uma criança introvertida e rebelde, cujo principal passatempo era o xadrez. Sempre só e isolado, não tem mais do que 2 ou 3 amigos, com os quais não convive muito. Aos 15 anos começa os consumos de haxixe, experimentou erva algumas vezes, cocaína uma vez, duas ou três vezes heroína e muitos soníferos.
Tendo sido sempre bom aluno, aos 19 anos, face à estupefação dos pais, quis interromper os estudos e passou o período de maior introversão.
Praticamente não se comunicava com ninguém, fechava-se no seu quarto, estudava xadrez e fumava haxixe. Relata o episódio alucinatório-delirante envolvido numa convicção tal que, em alguns momentos do seu discurso, hesita, interroga-se, baixa o tom do discurso, olha para os pais com um ar interrogativo, e interpela-me: para onde é que me levaram?
Face à expressão da minha total ignorância relativamente à resposta a essa pergunta, assegura-me que foi raptado, que lhe implantaram os dispositivos de controle, e que a sua vida, bem como a dos seus pais, corria grande perigo.
Indagado sobre os fatos que ocorreram nos dias que antecederam o episódio que acabou por determinar a sua ida ao hospital, refere que pela 1ª vez tinha consumido ecstasy (não se lembrava bem da quantidade ingerida), mas lembrava-se, perfeitamente, que tinha ficado muito agitado, tendo perdido por completo o sono durante 2 dias e que depois “foi raptado”.*
Este extrato da história clínica deste rapaz vai me servir de pretexto para traçar algumas ideias quanto à problemática que aqui vou tratar: os diagnósticos duplos de toxicodependência e a patologia psiquiátrica.
A questão que pretendo elucidar com este caso clínico centra-se, sobretudo, nas questões clínicas que estão implicadas na atribuição deste tipo de diagnóstico.
Por exemplo, este rapaz é, de fato, um esquizofrênico, cuja doença foi-se instalando insidiosamente, e emerge de uma forma brutal disparada pelo uso de ecstasy?
Ou, pelo contrário, o Rui é um adolescente que abusava de drogas e teve uma reação psicótica ao uso daquela substância?
Ou então, o Rui é mesmo um esquizofrênico cuja patologia o encaminhou, gradualmente, para o consumo abusivo de substâncias psicotrópicas?
Ou, nada disso, o Rui apresenta duas patologias independentes que concorrem no mesmo período: a esquizofrenia e o abuso de substâncias?
Que tipo de situação clínica é esta? Estamos face a quem e a quê?
Diagnóstico Duplo ou Comorbidade
Uns chamam-lhe diagnósticos duplos outros preferem chamar-lhe comorbidade.
A designação diagnóstico duplo é cada vez mais usada na prática psiquiátrica, querendo significar a combinação de uma perturbação psiquiátrica grave e o abuso ou dependência de substâncias.
Se bem que esta designação e o seu significado possam induzir uma relação causal entre os dois tipos de perturbações, relação que não é claramente explícita, pois sugere uma relação direcionada da perturbação psiquiátrica para o abuso e dependência de drogas, a opção pela outra designação – comorbidade – com o sentido da presença simultânea de duas ou mais perturbações, peca exatamente pelo contrário; isto é, não capta as potenciais interações causais entre as perturbações consideradas.
Temos, então, uma associação entre dois tipos de perturbações cujo enquadramento conceitual e, mesmo, nosográfico, está longe de estar resolvido.
Quais são os sintomas de Diagnóstico Duplo ou Comorbidades?
Sintomas de vícios e problemas de saúde mental, e a relação entre essas condições é clara. Por exemplo, os sintomas de dependência de cocaína, medicamentos prescritos, maconha, heroína / opiáceos ou drogas alucinógenas incluem:
- Arritmia cardíaca
- Mudanças repentinas de personalidade ou atitude
- Baixo desempenho no trabalho ou na escola
- Mudança de humor
- Paranoia
- Retraimento social
- Esquecimento
- Euforia
- Diminuição do apetite
- Depressão
- Incapacidade de dormir
- Palmas suadas, mãos trêmulas
- Hiperatividade
- Náusea e vomito
Os sintomas de problemas mentais como transtorno bipolar, esquizofrenia ou depressão incluem:
- Delírios ou alucinações
- Pensamentos suicidas
- Questões relacionadas à raiva
- Medo e ansiedade
- Depressão
- Euforia
- Retraimento social
- Mudança de humor
Quais são as opções de tratamento para Diagnóstico Duplo ou Comorbidades?
Os diagnósticos duplos ou comorbidades às vezes podem ser difíceis de diagnosticar. Os sintomas de abuso ou dependência de substâncias podem ser confundidos com sintomas de doença mental, e os sintomas de problemas mentais podem mascarar os sintomas de dependência. Às vezes, pessoas com distúrbios de saúde mental não abordam o uso de substâncias porque não acreditam que isso seja influente em seus problemas e necessidades.
Reabilitação Individual em caso de Diagnóstico Duplo
A única técnica comprovada de sucesso na reabilitação é um tratamento integrado. Tratar apenas um distúrbio não fará com que o outro melhore sozinho.
E o cuidado conjunto e separado dos distúrbios não resulta em um plano de tratamento eficaz.
Para serem eficientes e eficazes, os dois distúrbios devem ser tratados ao mesmo tempo, no mesmo local, pela mesma equipe de tratamento qualificada.
Nós, da Clínica Jequitibá, orgulhamo-nos de oferecer sucesso com um plano de tratamento integrado que lida tanto com os distúrbios da dependência quanto com problemas de saúde mentais interconectados.
Agende um horário e veja como podemos ajudar a você ou a seu ente querido a ter as melhores chances de alcançar com êxito a vida saudável e gratificante que vocês merecem.
Fonte: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/6863/2/81912.pdf
* Relato do Psiquiatra J. Marques-Teixeira, Professor Associado da Universidade do Porto
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