Terceira Ferramenta Freemind: “Gerenciar os pensamentos”. Pare! Observe-se! Escute-se!
Gerenciar os pensamentos é:
1. Capacitar o Eu, que representa a nossa capacidade consciente de decidir, para ser o ator principal do teatro da nossa mente: sair da plateia e dirigir o script da vida.
2. Ser livre para pensar, mas não escravo dos pensamentos.
3. Administrar a construção de pensamentos que debilitam e bloqueiam a inteligência, em especial aqueles que imprimem sofrimentos antecipatórios.
4. Exercer domínio sobre os pensamentos que produzem transtornos psíquicos, como culpa, fobia, autopunição, obsessão.
5. Deixar de ser espectador passivo das ideias negativas.
6. Não gravitar em torno dos problemas do passado nem do futuro.
7. Ter uma mente relaxada, tranquila, lúcida e ponderada.
Alguns jovens só conseguem perceber algo errado em suas vidas quando se tornam adultos frustrados, cujos sonhos foram enterrados nos becos da história. Alguns pais só conseguem perceber a crise familiar depois que suas relações com seus filhos estão esfaceladas. Alguns profissionais só conseguem perceber que perderam o encanto pelo trabalho quando ir para o trabalho se torna um martírio. Alguns usuários de drogas só percebem que estão dependentes quando estão destruídos física, social e emocionalmente.
Observe que um simples barulho no carro já nos perturba e nos faz ir ao mecânico. Mas muitas vezes nosso corpo grita através de fadiga excessiva, insônia, compulsão, humor triste, dores musculares, dores de cabeça e outros sintomas psicossomáticos, e não procuramos ajuda. Você ouve o inaudível, a voz do seu corpo e da sua mente? Ou só ouve o que é audível? Alguns só ouvem a voz dos seus sintomas quando estão num hospital, infartados, quase mortos, completamente aprisionados pelas drogas. Seja inteligente, respeite sua vida, opte pela vida.
A ferramenta “Gerenciar os pensamentos” é um dos pilares do Programa Freemind para desenvolver uma mente livre e saudável. O mundo dos pensamentos pode se tornar uma fonte de deleite ou de terror para o ser humano. Construímos pensamentos não apenas porque queremos construí-los conscientemente, enfim, pela decisão do Eu. Existe uma rica produção de pensamentos promovida por três outros fenômenos inconscientes: Gatilho da Memória (autochecagem), Autofluxo e Janelas da Memória.
O Eu é, ou deveria ser, o ator principal do teatro da nossa mente, e esses três fenômenos são atores coadjuvantes. O maior desafio do Eu é sair da plateia e liderar o palco.
Três atores coadjuvantes
GATILHO DA MEMÓRIA: É um fenômeno inconsciente que é acionado em milésimos de segundo por cada estímulo extrapsíquico (imagens, sons, estímulos táteis, gustativos, olfativos) ou intrapsíquico (imagens mentais, pensamentos, fantasias, desejos, emoções) e abre Janelas da Memória, ativando a interpretação imediata. Todos os dias vemos milhares de imagens que são interpretados rapidamente pelo acionamento do Gatilho da Memória e as consequentes aberturas das janelas.
Esse processo ocorre sem a intervenção do Eu. Portanto, as primeiras impressões e interpretações do mundo são inconscientes. A ação do Gatilho da Memória é fenomenal. Ele checa os estímulos a partir de bilhões de dados na memória com uma rapidez surpreendente – como disse, em milésimos de segundo. Você acabou de ouvir uma palavra e já tem o significado dela, se já a tinha assimilado previamente. Assim, temos consciência imediata dos estímulos exteriores. Sem esse fenômeno, o Eu ficaria confuso e não identificaria a linguagem, o rosto das pessoas, os sons do ambiente, a imagem da residência, do carro, do celular.
Se por um lado o Gatilho da Memória é um grande auxiliar do Eu, por outro lado pode causar grandes desastres. Pode abrir janelas erradas ou doentias, levando a interpretações superficiais ou preconceituosas, a fobias, aversões ou, no caso das drogas, a uma atração fatal. Portanto, o Gatilho da Memória, que é um piloto ou ator coadjuvante do Eu, pode também escravizá-lo. Quem tem claustrofobia, medo de lugares fechados, o sabe muito bem. Quem tem a síndrome do pânico, embora não conheça o pacto entre o Gatilho e as janelas doentias da memória, sabe como ela é cruel, embora sem dúvida possa ser superada. As ferramentas aqui expostas podem dar uma contribuição significativa.
Quando um pensamento perturbador, um aperto no peito, palavras ou imagens abrem arquivos doentios, o Eu entra numa armadilha psíquica para a qual ele não se programou, o que bloqueia sua lucidez e sua coerência. Se nessas situações ele não souber pilotar a aeronave mental, ficará dominado ou paralisado.
AUTOFLUXO: É um fenômeno inconsciente de vital importância para o psiquismo humano. O Eu faz uma leitura lógica, dirigida e programada da memória, ainda que incoerente e destituída de profundidade. A leitura do Autofluxo é diferente. Ele faz uma varredura inconsciente, aleatória, não programada dos mais diversos campos da memória, produzindo pensamentos, imagens mentais, ideias, fantasias, desejos e emoções no teatro psíquico. Cria os pensamentos que nos distraem, imagens mentais que nos animam, emoções que nos fazem sonhar. Leva-nos a ser um viajante sem compromisso com o ponto de partida, a trajetória e o ponto de chegada.
O fenômeno do Autofluxo nos traz problemas, mas sem ele morreríamos de tédio, solidão, angústia existencial, teríamos depressão coletiva. A meta fundamental desse fenômeno inconsciente é ser a maior fonte de entretenimento humano. A fonte de pensamentos e ideias (cadeias de pensamentos ou raciocínio) produzidos pelo fenômeno do Autofluxo é a maior fonte de distração, prazer e inspiração do ser humano, mais do que a TV, os esportes, a literatura, as imagens do ambiente ou o instinto sexual.
Na atualidade, o Autofluxo, que deveria ser uma fonte de entretenimento, se tornou a maior fonte de ansiedade e terrorismo psicológico. Se não aprendermos a gerenciar a produção de pensamentos promovida pelo Autofluxo, poderemos viver a pior prisão do mundo – em nossas mentes.
Em muitos casos, o ponto de partida para a leitura do fenômeno do Autofluxo são as janelas abertas pelo Gatilho da Memória. Por exemplo, se uma pessoa tem fobia de avião, quando pisa na aeronave, o Gatilho dispara, abre a janela traumática de que o avião vai cair. Por sua vez, o fenômeno do Autofluxo se ancora naquela janela doentia e produz milhares de pensamentos perturbadores, levando o passageiro a achar que a cada pequena turbulência viverá seus últimos instantes de vida.
JANELAS DA MEMÓRIA: São um território de leitura num determinado momento existencial. Nos computadores, temos acesso a todos os campos da memória; na memória humana temos acesso por áreas específicas, que chamo de janelas. O grande desafio do ser humano é abrir o máximo de janelas num foco de tensão; mas, infelizmente, podemos fechá-las e reagir institivamente, como animais irracionais, e, desse modo, ser vítimas de raiva, ciúme, fobias, compulsão, necessidade neurótica de poder, dependência.
Há três tipos de janelas:
Neutras: Correspondem a mais de 90% de todas as áreas da memória. Elas contêm bilhões de informações neutras, sem conteúdo emocional, tais como números, endereços de pessoas, telefones, informações escolares, dados corriqueiros, conhecimentos profissionais.
Killer: Correspondem a todas as áreas da memória que têm conteúdo emocional angustiante, fóbico, tenso, depressivo, compulsivo. Como o próprio nome diz, killer quer dizer assassino, portanto são janelas que controlam, amordaçam, asfixiam a liderança do Eu. As janelas killer contêm nossas experiências traumáticas, como frustrações, perdas, crises, traições, medos, rejeições, inseguranças, ódio, raiva. Algumas janelas killer, como vimos, são estruturais ou “duplo P”, ou seja, têm duplo poder: de encarcerar o Eu e de expandir a própria janela ou a zona de conflito.
Light: Correspondem a todas as áreas de leitura que têm conteúdo prazeroso, tranquilizador, sereno, lúcido, coerente. As janelas light “iluminam” o Eu, alicerçam sua maturidade, sua lucidez, sua coerência. Elas contêm as experiências saudáveis, como apoios, superações, coragem, sensibilidade, capacidade de se colocar no lugar do outro, de pensar antes de agir, de amar, se entregar, se solidarizar, tolerar.
Consequências
A Teoria da Inteligência Multifocal demonstra que, sem os atores coadjuvantes, o Eu não se formaria. Não saberíamos quem somos, não teríamos identidade. Pois, antes de o Eu começar a ter consciência de si mesmo, ele precisa de milhões de pensamentos arquivados na memória nos primeiros anos de vida. Quem produz esses pensamentos? Os três atores coadjuvantes citados há pouco.
Entretanto, a produção de pensamentos pode se tornar um grande vilão da qualidade de vida e da felicidade de quatro formas. Acredite: seus maiores inimigos não estão fora, mas dentro de você. Você pode se tornar o maior algoz de si mesmo.
Cuidado! Pensar é excelente, mas pensar demais e sem qualidade pode ser um grande problema.
Painel de debate
1. Gerenciar os pensamentos é ser livre para pensar, e não escravo dos pensamentos. Seus pensamentos o perturbam? O que você pensa e lhe rouba a tranquilidade?
2. O sentimento de culpa assalta a sua mente. A culpa dosada corrige rotas, a culpa intensa destrói os caminhos! Algum sentimento de culpa o perturba? Você tem dificuldade de se perdoar?
3. Você sabia que compreender, perdoar e elogiar são a maior vingança contra um inimigo? Se o perdoar, ele morre como inimigo e deixa de perturbar seu sono. Quem você não consegue perdoar e por quê?
4. Pensar com consciência é ótimo. Pensar demais e sem gerenciamento é uma bomba contra a saúde psíquica. Você pensa excessivamente? Sofre por antecipação? Sua mente é agitada, ansiosa, irritadiça, preocupada? Perturba-se por coisas que não aconteceram? Tem baixa tolerância à frustração, ou seja, perde a paciência facilmente, qualquer coisa o contraria?
5. Você deixa seus pensamentos angustiantes, perturbadores, fóbicos soltos ou você os gerencia, critica, recicla?
6. Que tal a partir de hoje duvidar de tudo que o controla, criticar tudo o que o perturba e determinar aonde você quer chegar dezenas de vezes por dia? Grite no silêncio da sua mente! Retire seu Eu da plateia! Atue como ator principal no teatro da sua mente a cada momento existencial!
Painel de exercícios diários para gerenciar os pensamentos
Faça um relatório dos seus exercícios durante a semana. O que praticou e qual foi o resultado?
1. Faça um relatório das características da ferramenta Gerenciar os Pensamentos, descritas no início deste capítulo, que você precisa desenvolver.
2. Faça um relatório sobre a qualidade dos seus pensamentos produzidos diariamente. Analise se você acorda cansado, anda irritado, impaciente, com a mente agitada, sofre por antecipação, é irritadiço, está esquecido, sem concentração, com dores de cabeça, dores musculares.
3. Tenha consciência dos atores coadjuvantes do teatro da sua mente que constroem pensamentos, mas não os deixe dominar o palco. Escreva durante a semana sobre o que aprendeu a respeito do Gatilho da Memória, os tipos de janelas e o fenômeno do Autofluxo.
4. Faça a técnica do DCD (duvidar, criticar, determinar) diariamente no silêncio da sua mente durante toda a sua vida. Crie ideias em que você duvida, critica e determina. Exemplo: eu duvido de que não superarei meu conflito! Eu critico meu sentimento de incapacidade! Eu detesto ser escravo das drogas/álcool! Eu exijo ser livre! Eu determino reescrever minha história! Faça essa técnica com emoção, garra, ousadia, como um grito silencioso em que você hasteia a bandeira da liberdade! Lembre-se: essa técnica não é positivismo, mas a atuação do Eu como gestor psíquico. Escreva suas experiências aplicando a técnica.
5. Você acha que, se tivesse aprendido e aplicado sistematicamente a técnica do DCD nos focos de tensão de sua história, seu Eu teria superado com mais facilidade suas crises ou conflitos? Quais? E por quê?
6. O Programa Freemind ou Mente Livre vem sempre lembrar a você de que não se muda a dinâmica da personalidade num passe de mágica. É necessário que o Eu seja treinado, exercitado e mais treinado… É como a respiração, que só se encerra no último suspiro.
Fonte: Livro “MENTE LIVRE E EMOÇÃO SAUDÁVEL”, Augusto Cury.
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