Causas de recaída e de busca por tratamento referidas por dependentes químicos em uma unidade de reabilitação.
Uma pesquisa para determinar a causa de recaídas e de buscas por tratamento foi realizada com sujeitos entre 23 e 45 anos, idade considerada produtiva, pois são indivíduos nessa faixa etária os responsáveis pela maior força de trabalho de nosso país. Por outro lado, pelo uso de drogas, com frequência, perdem seus empregos, são destituídos de funções sociais e familiares, caracterizando perda social por restringir a pessoa na capacidade de produzir benefícios para si e para a sociedade.
O estudo desenvolvido com 25 dependentes de álcool evidenciou que os principais fatores para as recaídas foram a pressão social e a influência de amigos dependentes químicos (40%); outros fatores atribuídos foram a solidão e distanciamento da família (24%), conflitos com a parceira (16%), dependência (10%) e depressão (8%).
Pode-se dizer que todo dependente químico que busca a abstinência necessita modificar o círculo social de amizades com o qual compartilhava o uso da droga, como maneira preventiva de recaídas, apesar de a prática evidenciar que esta é uma das maiores dificuldades enfrentadas por estes indivíduos.
Os depoimentos dos sujeitos reforçam o lema da irmandade Alcoólicos Anônimos (AA) de evitar o primeiro gole, pois é a iniciativa que leva, imediatamente ou mais tarde, ao controle da compulsão para beber.
Ante a presença da droga, o sujeito se depara com a impotência de raciocinar e reage compulsivamente na tentativa de diminuir uma tensão que lhe parece impossível controlar por outros meios. O indivíduo se sente comandado pelo objeto e, assim, fracassa, principalmente, na maneira de utilizar a linguagem e o pensamento como métodos de ponderação. Em decorrência disso, novamente usa a substância, mas, após o alívio da fissura, em resposta ao ato reaparece a falta de prazer.
Outra pesquisa realizada com 105 alcoolistas de cidades do interior de Minas Gerais, Brasil, obteve como principal fator atribuído à recaída, a dependência física e psicológica especificamente associada à necessidade de beber e à falta de vontade de parar, respectivamente, presentes em 60% dos sujeitos.
Os relatos dos sujeitos deste estudo confirmam os resultados dos vários outros estudos que revelaram que, para os sujeitos, a busca da satisfação parece estar relacionada diretamente à tolerância das frustrações, fazendo com que recorram às drogas como solução imediata, o que é ilusório diante de uma angústia vivenciada como inexplicável, associada aos mais diferentes impasses cotidianos.
A vivência num ambiente familiar instável, intolerante, com falta de compreensão e afetividade, ou até mesmo com falta de imposição de limites e de disciplina, também favorece o comprometimento da autoestima, que, por sua vez, dificulta a superação das pressões do meio ambiente, podendo voltar às drogas.
A baixa autoestima, as expectativas negativas e a ausência de autopercepção, levam indivíduos com problemas associados ao consumo de substâncias persistirem em comportamentos aditivos, apesar dos prejuízos nas diversas áreas da vida. Assim, o compromisso decorrente de uma ocupação ajuda os dependentes químicos a se manterem abstêmios e o contrário contribui para a recaída.
Com o desenvolvimento da dependência, se intensifica a redução de interesses do indivíduo para os assuntos que não estejam relacionados à droga, passando a se dedicar totalmente à obtenção da substância. Esse comportamento passa a ser rotina na vida do usuário que, após o tratamento, ao retornar para o convívio familiar, pode sentir-se em inatividade por não estar usando a droga.
Conquanto a abstinência seja a condição desejada para o dependente químico, tão indispensável quanto ela, são os tratamentos que auxiliam no desenvolvimento de habilidades do usuário para enfrentar a vida sem a droga, a busca de novas formas de relacionamento com familiares e outras pessoas que não sejam usuárias e a reinserção social.
Um dos motivos para busca por tratamento relatado nesta pesquisa é a preocupação do modelo de pai que o dependente químico representa para seu filho. Um estudo realizado na periferia da cidade de São Paulo com crianças e adolescentes filhos dependentes químicos confirmou a predisposição à dependência química em crianças ou jovens que convivem com alguém que utiliza, de maneira abusiva, algum tipo de substância psicoativa, tornando-se este um fator de risco para o início da prática abusiva.
O padrão inadequado dos cuidados paternos acaba por promover agressividade e comportamento antissocial nas crianças, aumentando o risco de alcoolismo nos descendentes, associado ao transtorno de personalidade.
Outro estudo, que externou contextos de abstinência e recaída de alcoolistas, ratificou a importância da família e seus vínculos como base para a reestruturação da vida dos dependentes, servindo como fator motivador na busca pela reabilitação. Indivíduos que mantêm vínculo familiar no momento da internação têm um maior aproveitamento do tratamento do que aqueles que não possuem família. Isso também é observado durante a manutenção da abstinência, pois o potencial retorno ao uso de substâncias psicoativas está fortemente relacionado à falta de apoio e de acompanhamento familiar.
Um estudo realizado com dependentes químicos na cidade de Caxias do Sul, Brasil, evidenciou que «é na ruptura, na conscientização do fracasso, no confronto entre o que se quer e o que não se quer parece emergir a compreensão do possível, do projeto construtivo viável».
Isso é confirmado por intermédio das falas dos sujeitos, quando reconhecem o déficit
de seu autocontrole como o fator principal para a busca por tratamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados obtidos nesta pesquisa confirmam resultados e aspectos encontrados na literatura e apontam para a necessidade de aprimorar os processos de prevenção à recaída considerando-se que periodicamente estão sendo revelados aspectos comuns como atribuições ao retorno do uso das substâncias psicoativas, o que garantiria uma maior validade dos esforços políticos e governamentais na luta contra a dependência química e incentivaria a melhoria dos tratamentos ofertados a esta clientela, hospitalar ou extra-hospitalar.
Os dados dessa pesquisa sobre a dependência química, tratamento e processo de recaída, fatores fundamentais no processo saúde-doença dos usuários de substâncias psicoativas podem subsidiar profissionais de saúde na compreensão de situações peculiares do cotidiano dos dependentes químicos e no planejamento do cuidado.
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