A codependência é um transtorno emocional definido entre as décadas de 70 e 80, primeiramente relacionado aos familiares de dependentes químicos. Atualmente a codependência é estendida a qualquer quadro de dependência ou transtornos graves de personalidade e de conduta.
A característica principal consiste na “atadura emocional”, ou seja, a pessoa se atrela à patologia do outro, tendo uma extrema dificuldade em colocar limites para o comportamento problemático do dependente.
Por exemplo, a esposa que tolera, incansavelmente, todas as conseqüências decorrentes do alcoolismo do marido, como perda do emprego, agressividade, irresponsabilidades, etc., ou a pessoa que suporta qualquer tipo de abuso do cônjuge por medo das chantagens emocionais feitas por ele, como por exemplo, a separação.
Os codependentes são, na maior parte dos casos, pais ou cônjuges que vivem em função da pessoa dependente, assumindo e responsabilizando-se por todos os comportamentos problema desta e preocupando-se excessivamente por seu bem estar.
O codependente não percebe que cuidando excessivamente do outro, ocorre um processo de autoanulação – seus objetivos e necessidades acabam sendo esquecidos por ele mesmo. Resumindo, o sujeito depende da dependência do outro.
Como se manifesta a codependência?
No texto abaixo, escrito por Ronaldo Rissetto, coordenador de Grupos de Amor-Exigente, ele nos dá um exemplo muito prático de como se manifesta uma codependência:
Domingo de manhã, Joselina (nome fictício, ou não) resolve parar de arrumar a casa, pois receberá todos os seus filhos, e vai à feira para comprar as últimas coisas que faltam, para preparar o almoço comemorativo do Dia das Mães. Claro que ela preferia ficar em casa e dar um toque final na decoração, pois não sabe se vai conseguir voltar a tempo de concluir almoço e decoração antes que todos cheguem, porém ela sai correndo pela rua.
Sai e compra tudo!
Retorna suando em bicas, termina de arrumar a casa, os últimos detalhes na sala e também do almoço são concluídos, graças à sua destreza.
Mulher-guerreira essa Joselina, faz de tudo naquela casa. Inclusive, recentemente começou a trabalhar fora também.
Muitos de vocês que estão lendo perguntarão:- e o marido? Se ele faleceu, ou até se houve a separação do casal. Mas a verdade é o que o Joselino (nome fictício, ou não) está dormindo. Aliás, uma das coisas que ele mais faz nesses últimos tempos é dormir de dia, pois de noite ele fica no bar com os amigos (amigos, né?).
O dia continua, e a Joselina resolve se arrumar para receber os filhos, mas nem bem ela resolve fazer isso e a sua filha toca a campainha com os filhos e o marido.
Ao recebê-la, Joselina ainda ouve da filha: – Mas porque você ainda não se arrumou? Hoje é o seu dia!
E a Joselina não responde nada, mas ela sabe bem que hoje é o dia dela. Aliás, todos os dias são o dia dela, de que ela trabalhe em dobro, pois não tem apoio em casa e sente-se impotente sobre qual atitude tomar.
Enfim, ela vai tomar banho, enquanto a filha recebe os outros filhos que estão chegando. E claro, antes de entrar no banho, ela vai acordar o Joselino, para não estragar o seu dia. Coitado do Joselino está tão cansado!
No processo de CODEPENDÊNCIA, os familiares assumem responsabilidades de atos que não são seus, tornando-se facilitadores, com inversão de papéis e funções, como por exemplo, da nossa querida Joselina que, ao invés de colocar o marido pra fora da cama, talvez com um balde de água fria, preferiu postergar um serviço seu para fazer outro que não deveria ser seu.
E aqui entramos no terceiro estágio dessa doença familiar tão corriqueira, a “DESORGANIZAÇÃO FAMILIAR”.
O que é a desorganização familiar?
Desorganização sim, pois as pessoas insistem em não assumir esse desvio de conduta perante o outro que não está cumprindo o papel. E é claro que esse processo é muito mais amplo, e atinge uma série de sentimentos e reações que passamos a ter quando nos vemos confrontados pela compulsão às drogas e que culmina, via de regra, na Dependência Química.
Uma mãe deixa o filho dormir até mais tarde, mesmo que ele tenha chegado bêbado da balada, para que ele possa se recuperar do cansaço e do mal-estar que a noitada causou. Entretanto, se ela o acordasse, e deixasse que ele passasse por esse mal-estar ou mesmo cansaço, e exigisse que ele ajudasse em atividades dentro de casa, permitiria que sofrendo pelas ações equivocadas que causou, refletisse se valeu a pena ou não.
O que vemos são ações que nada tem a ver com educação, e sim com ausência de sobriedade familiar para cumprir a obrigação paterna – “educar e dar limites”.
Vocês conseguem visualizar a imagem da mãe entrando no quarto e abrindo janelas e chamando o “filhinho” para que levante e vá ajudá-la? Tenho certeza de que surgirão várias respostas.
Agora, você imagina que depois de muito esforço, a mãe se mantendo no compromisso de ensinar aquele filho, o acorda e faz com que ele vá à feira buscar frutas e legumes para que ele possa almoçar. Isso mesmo. Ele também usufruirá daquela atitude, pois é para ele também. E ainda, após o jovem retornar da feira, a mãe pedirá que ele limpe os fundos da casa onde está o cachorro Bob que ele comprou jurando que cuidaria dele, e todos acreditaram!
Eu utilizei apenas dois exemplos, mas nós sabemos que não existe sexo, idade, gênero ou qualquer outra referência quanto à desorganização familiar. Pode acontecer com qualquer um, a qualquer hora desde que a base seja um lar disfuncional, com pessoas desequilibradas, com sentimentos dos mais distintos, como culpa, raiva, descaso e outros. Seja lá qual for o sentimento, a pessoa que assume papéis que não são seus sofre, pois acredita que está protegendo, quando na verdade está incentivando para que a conduta disfuncional permaneça presente.
Deixar a codependência é fácil?
Quando nos vemos em grupos de apoio ou mesmo em bate-papos individuais, o comentário mais comum é: – “Você pensa que é fácil?”
Claro que não é fácil, eu respondo, e esse é o problema. É mais fácil deixar como está, e continuar se submetendo a essa atitude codependente. Mas deixar como está irá mudar a situação? Claro que não, então o que fazer? É fundamental que a pessoa, e às vezes a família, discuta abertamente o problema, e tente buscar em conjunto, uma solução positiva, e isso significa resgatar o protagonismo de cada um naquela casa.
Continuo perguntando:- é fácil? Pode ser que sim, e pode ser que não, mas o mais importante e que o movimento tenha o seu início. Muitas vezes, uma única pessoa pode ser o gatilho dessa mudança na família, de forma a que o resultado permeie a todos até o objetivo final. Seja você a pessoa que dará o primeiro passo.
Como comentei acima, se você se predispôs a mudar você precisa de apoio, de familiares ou de pessoas, que tendo passado por situação semelhante poderão te esclarecer, baseado em experiências que tiveram, em quais seriam as atitudes mais adequadas para se chegar a uma solução, do que agora é um problema, mas que com certeza se tornará uma satisfação.
A regra fundamental para quem passa por situações semelhantes é NÃO FICAR SÓ.
A solidão servirá apenas para te deixar mais vulnerável e cada dia mais propenso a se manter nessa situação desagradável, de ser simples instrumento da desorganização familiar.
Como a Clínica Jequitibá pode te ajudar?
Os efeitos do vício são intensos e de longo alcance. Assim como os indivíduos dependentes sofrem, as famílias também passam por estresse e turbulência. Por esse motivo, é imperativo que toda a família – não apenas o indivíduo viciado – participe de um tratamento abrangente, sobretudo os que vivem a codependência.
Na Clínica Jequitibá, valorizamos e nutrimos a cura da família tanto quanto a do paciente. Além disso, acreditamos que a participação ativa da família no tratamento é necessária para a recuperação a longo prazo de todos.
De acordo com nosso mantra, a família é o paciente e o paciente é a família. Envolvemos membros da família durante todo o processo de tratamento, desde a admissão até o apoio após o tratamento. Oferecemos oportunidades e recursos para as famílias participarem do tratamento de seus entes queridos, com serviços projetados especificamente para atender às necessidades específicas.
Acima de tudo, fazemos tudo o que podemos para garantir que as famílias entendam a natureza e as consequências do vício para desenvolver maneiras novas e saudáveis de gerenciar a ansiedade.
Fonte: https://amorexigente.org.br
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