Os 5 erros no tratamento da dependência química*
É muito triste ver a dor de pais que, ao tentar de tudo para verem seus filhos livres das drogas, veem tudo fracassar… é triste ver a mistura de desespero e esperança a cada nova oportunidade que aparece e ver como se sentem os pais que não sabem até quando vão aguentar viver com seus filhos usando drogas.
A capacitação das famílias pode ajudar a mudar estes sentimentos, pois isso vai permitir aos pais saber identificar o que está e o que não está funcionando e o que está em jogo nesse processo todo. Isto permite que eles tenham um norte para investir sua energia no que realmente vai fazer diferença.
Mas saber o que realmente funciona no tratamento da dependência química é uma pergunta muito ampla. Então, usando o princípio da inversão: o que não funciona no tratamento da dependência química? O que é preciso fazer para o tratamento dar errado?
Vamos listar aqui 5 erros que fazem o tratamento da dependência química não funcionarem:
O primeiro dos 5 erros: Subestimar o poder da Família
Subestimar o poder da família é achar que a família é só um apoio para o dependente. A família pode ser responsável por até 80% de um tratamento.
Os tratamentos com melhores resultados não são aqueles com a menor gravidade do quadro ou com menor comprometimento, mas aqueles em que os pais mergulharam de cabeça no processo familiar e se envolveram de verdade no tratamento, procurando todas as mudanças que eles precisavam fazer.
Isto tudo, independente do filho adicto: eles investiram neles mesmos e isso refletiu nos 80% de resultado do tratamento do filho.
O segundo dos 5 erros: Buscar uma solução rápida
Os problemas com drogas levam anos para se instalarem. Não existe um processo que vá resolver rápido isso.
O tratamento também precisa de tempo (anos até em alguns casos) para que ele possa dar o efeito que a família procura. E não é efeito de repente: é um efeito construído passo a passo ao longo do tempo.
Então, uma família sem capacitação vai buscar resultados de acordo com a imagem do gráfico 1 (abaixo): a doença vai se instalando enquanto o filho vai usando drogas, até que eles encontram a panaceia: algo que o filho vai tomar ou alguém vai dizer o que eles precisam fazer para levar o filho ao estado final do que eles estão buscando: sem usar drogas, bem, inteiro… a verdadeira solução mágica!
Só que isto não existe! Na realidade, o Gráfico 2 representa muito mais o tratamento do que o gráfico anterior. A reabilitação é feita de altos e baixos, uma luta constante e demanda persistência e paciência da família.
“Quando nada parece dar certo, vou ver o cortador de pedras martelando sua rocha talvez 100 vezes, sem que uma única rachadura apareça. Mas na centésima primeira martelada a pedra se abre em duas, e eu sei que não foi aquela que conseguiu isso, mas todas as que vieram antes” (Jacob Riis)
Esta é uma metáfora linda para o esforço que a família faz no tratamento: ela vai tentar muitas vezes e ter a sensação de que não teve nenhum movimento, mas na centésima primeira vez, quando tudo mudar, não foi aquele movimento que fez a mudança, mas o acúmulo de todos os anteriores.
O terceiro dos 5 erros: Alimentar-se de falsas esperanças
É um erro e acontece quando a família não está observando os pontos fortes e fracos do tratamento e não está preparada para os obstáculos que virão.
Eduardo Calina, psiquiatra e psicanalista argentino, referência mundial em dependência química, fala que a dependência química é a doença da negação: como a família adoece junto com o dependente, a família também sofre da negação.
Acaba não vendo a realidade e só torce para que algo dê certo. Este é o “tratamento de torcida”: tenta alguma coisa, aleatória – muitas vezes, e ficam torcendo – “dessa vez vai dar certo, vai dar certo…” – e quando não dá certo, desabam todas as esperanças, dá aquele desânimo total e acham que precisam começar da estaca zero.
A família precisa passar de um “tratamento de torcida” para um “tratamento técnico”
O tratamento técnico vê algo dando errado e sabe o que precisa mexer para dar certo, o que precisa melhorar. Sabe qual botão precisa ser ajustado para que o processo flua melhor, para que os resultados sejam melhores.
Neste caso, é a família entendendo as fases do tratamento e se preparando para os obstáculos que virão. Isso sai da negação: é quando a família consegue enxergar que se está aparecendo algum sinal de recaída (e sabe o que fazer) ou então consegue ver que o dependente voltou a usar drogas (e sabe o que fazer).
É quando a família observa os sinais de que o dependente está se afastando do tratamento e consegue criar uma estratégia para trazê-lo de volta ou até observar e decidir que será necessária a internação.
A família não precisa adiar uma ação inevitável porque ela não está torcendo para que dê certo. Ela está com uma visão técnica, está observando e está se capacitando para isso.
O quarto dos 5 erros: Pensar apenas no próximo movimento
Uma metáfora boa para esse erro é o jogo de xadrez: o bom jogador de xadrez sempre pensa vários movimentos na frente e, quanto mais movimentos à frente ele conseguir pensar, melhor jogador de xadrez ele é. Quem pensa apenas no próximo movimento, provavelmente será derrotado.
Isto acontece também no tratamento. A família precisa conseguir pensar nas consequências secundárias das suas ações. Por exemplo, no fluxograma 1 abaixo, podemos ver a imagem do que é essa forma de pensar:
A família se propõe a agir de uma determinada forma com o dependente, que pode ou não aceitar essa ação. Se ele aceitar, ótimo: a família propõe tal coisa a ele. Se ele não aceitar, a família já está preparada para tomar uma outra atitude. Destas duas ações, o dependente pode aceitar ou não. Aceitando, ótimo! A família segue o que se propôs. Se ele não aceitar, a família deve ouvir o que ele tem a dizer e fazer uma contra-proposta e, assim, sucessivamente.
Esta é uma jogada bem complexa, mas quem a pratica, está alguns movimentos à frente e dá muito poder aos pais para poderem conduzir o tratamento da melhor forma possível.
O quinto dos 5 erros: Querer tratar gastrite com cirurgia plástica
Metáfora exagerada, mas essa é a ideia quando os pais recorrem a profissionais não especializados em dependência química para conduzir o tratamento. Existem muitas famílias que às vezes estão indo bem, capacitando-se, frequentando grupo de apoio e o filho está no psicólogo, psiquiatra ou terapeuta familiar que não tem conhecimento específico de dependência química e isso acaba gerando dúvidas, mais atrapalhando que ajudando, ainda que com a melhor das intenções.
Isto ocorre porque estes profissionais trabalham com ferramentas próprias para lidar com outros problemas.
A dependência química tem características únicas que precisam de ferramentas e um raciocínio específico para o tratamento.
É um erro querer tratar a dependência química com profissionais que não são especializados no assunto
Como a Clínica Jequitibá pode te ajudar
A missão da Clínica Jequitibá é transformar vidas afetadas pelo vício em drogas e álcool por meio de cuidados de saúde comportamentais comprovados, baseados em evidências, abrangentes e personalizados.
Entendemos que o vício é complexo. As dimensões física, psicológica e espiritual desempenham um papel de peso nos distúrbios de abuso de substâncias, e é por isso que Clínica Jequitibá não trata apenas problemas de drogas e álcool, mas todos os problemas relacionados que os pacientes e suas famílias enfrentam.
Adaptamos planos de tratamento de dependência clinicamente comprovados a cada paciente e membro da família.
Combinamos as mais recentes práticas baseadas em evidências da medicina e da psicologia com métodos de tratamento de dependência historicamente comprovados, como terapia cognitiva comportamental, terapia comportamental dialética, integração em 12 passos, entrevista motivacional, aconselhamento sobre dependência e cultura positiva de colegas.
Nossa abordagem também inclui educação física, nutrição, educação para pacientes e suas famílias e espiritualidade. Todo paciente tem uma equipe integrada e multidisciplinar de funcionários altamente treinados e credenciados, que trabalham em período integral no local para desenvolver planos de tratamento personalizados.
A família é parte integrante do nosso processo
Na Clínica Jequitibá, acreditamos que o paciente é a família e a família é o paciente. Isso significa que estamos igualmente comprometidos em cuidar de dependentes e suas famílias. Fornecemos opções de educação e tratamento específicas para a família, incluindo:
- Contato regular com entes queridos
- Um conselheiro separado para a família enquanto o paciente estiver em reabilitação
- Educação sobre dependência e saúde comportamental
- Uma “família de amigos” de ex-alunos para apoio e compreensão
- Programas de tratamento intensivo na forma de reestruturação familiar residencial.
Agende um horário e venha nos conhecer.
*Texto baseado em vídeo de Raphael Mestres
Fonte: Instituto Frontale
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